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MILITÂNCIA ÀS AVESSAS

Você pode não ser fã e não acompanhar diariamente, mas de uma coisa eu tenho certeza: seja pelas redes sociais ou nas rodas de conversas com amigos, nas últimas semanas você inevitavelmente deve ter se deparado  em algum momento sobre as mais recentes polêmicas da casa mais vigiada do Brasil. Sim, estou falando do Big Brother Brasil 2021.

O chamado “maior big brother da história” está na boca do povo e não seria por menos, o programa já acumula record de audiência com picos não vistos em 14 anos da edição. 

Trazendo temas que envolvem desde questões raciais, até opressões de sexualidade, o relity tem fornecido para o dia a dia dos brasileiros pautas de trazem importantes reflexões tais como: racismo, apropriação cultural, xenofobia, dentre diversos outros assuntos que estão dando o que falar.

Mas o que tem mais surpreendido o público que assiste ao programa, são que os temas, muitos deles ligados aos movimentos negros, têm gerado falas preconceituosas e intolerantes pelos próprios participantes negros durante o jogo.

O resultado tem sido tão grave, que uma das participantes, a rapper Karol Conka, já acumula quase 2 milhões, não de seguidores, mas de pessoas que pedem a sua eliminação na conta “rejeicaodakarol”, além de diversas perdas contratuais e financeiras que acumulam até então o prejuízo de mais de R$5.000.000,00.

Quando nos referimos a “Lugar de fala”, a filósofa brasileira Djamila Ribeiro esclarece que qualquer pessoa possui um lugar de fala sobre determinado assunto, partindo do pressuposto de que todos somos seres inseridos em sociedade, mas que as visões de fala se moldam a partir da perspectiva de onde o sujeito está inserido nessa mesma sociedade.

O grande problema que tem sido observado é que a partir do momento em esses participantes negros têm se utilizado de forma agressiva e individual temáticas raciais, colocam em cheque o real sentido de lutas antirracistas feitas por vozes coletivas em um Brasil cada vez mais polarizado. 

Deve-se deixar claro, que não devemos compactuar com a chamada “cultura do cancelamento”, em que um indivíduo é linchado virtualmente em uma sistemática de ódio por quaisquer falas ou opiniões, a partir do momento de que ao cancelarmos aquele indivíduo por suas atitudes dentro do reality, nos igualamos a ele por estarmos agindo da mesma maneira.

Por outro lado, no momento em que se atinge uma visibilidade tão grande quanto a do programa, a pessoa tem que estar ciente de sua responsabilidade social e as consequenciais de seus atos, tais como as recentes denúncias feitas por falas de teor de intolerância religiosa com as religiões de matriz africana.

O Big Brother Brasil só está começando e suas polêmicas estão longe de acabar. Que os assuntos lá debatidos, que nada mais são do que um pequeno reflexo do microcosmo da sociedade brasileira, possam nos servir de aprendizados e considerações assertivas principalmente do que fazer, ou melhor ainda, do que não fazer em relação ao outro.

José Ricardo Cabral, advogado criminalista, pós graduando em Direito Constitucional e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/GO.

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